sábado, 28 de dezembro de 2013

Ensinar e aprender: faces distintas da mesma moeda


"A morrer e a aprender". A sabedoria popular, através deste adágio, enfatiza que mesmo na hora da morte estamos a aprender. O contrário dessa premissa também é verdadeiro, ou por outra, aprendemos desde o nosso nascimento não sendo necessário, neste caso, nenhuma intervenção programada no ato de ensinar.
 Como refere Pozo (2002), “a maior parte de nossas aprendizagens quotidianas são produzidas sem ensino e inclusive sem consciência de estar aprendendo” (p.56). Este tipo de aprendizagem é denominada por aprendizagem implícita e é uma parte importante das aprendizagens que efetuamos diariamente, embora pese o interesse maior pela aprendizagem explícita “produto de uma atividade deliberada e consciente, que costuma se originar em atividades socialmente organizadas, que de modo genérico podemos denominar ensino” (Pozo, 2002, p.57).
Aprender, diz-se vulgarmente, é adquirir conhecimentos. Também vulgarmente associa-se a aprendizagem ao aluno e o ensino ao professor como se fosse possível visualizar uma fronteira que os separa e delimita o seu campo de ação.
Muitas são as teorias que tentam dar uma explicação lógica sobre esse fenómeno e que associam o ato de aprender ao ato de ensinar, levando a que essas duas realidades por vezes sejam confundidas como se de uma mesma realidade se tratasse.
Não é meu objetivo fazer a análise desses dois processos que se distinguem à priori por possuírem, um uma natureza intrínseca – ato de aprender – e outro uma natureza extrínseca – o ato de ensinar. No entanto, constituem os dois lados de uma mesma moeda e parte integrante de um mesmo processo de construção pessoal e social que é a educação. Esta, juntamente com a cultura, moldam o indivíduo dotando-o de ferramentas que lhe serão úteis não só para construir o seu próprio mundo, mas também as conceções de si próprio e das suas faculdades.
Como referem Leite, Malpique e Santos (1989) “ a educação não se faz por acaso: não se encontra qualquer pessoa, nem qualquer coisa, num lugar ao acaso e em quaisquer condições”(p.65). Não sendo uma atitude solitária, a educação desenvolve-se em interação com o “outro” e com o meio e, por conseguinte, implica uma compreensão mais alargada sobre o seu carácter social, psicológico, filosófico e pedagógico. Essa compreensão permite-nos reconhecer as linhas orientadoras do modelo de ensino e aprendizagem constituindo-se nos seus alicerces.
Com efeito, a forma como cada um se apropria do conhecimento é diferente e embora muitos entendam que o fator genético seja determinante, a nossa capacidade de aprendizagem também pode ser vista como uma trajetória cíclica, visto que é através da aprendizagem que “incorporamos a cultura, que por sua vez traz incorporadas novas formas de aprendizagem” (Pozo, 2002, p.25).
A relação entre ensino e aprendizagem, carece, pois, de um modelo organizacional ancorado em pressupostos válidos e coerentes com os objetivos almejados. Esses pressupostos implicam uma conceção de aluno e uma escolha pedagógica que irá refletir certamente a conceção do processo de aprendizagem e do próprio professor.“A pedagogia nunca é inocente. É um meio que veicula a sua própria mensagem” (Bruner, 1996, p.93).


Bibliografia
Bruner, J. (1996). Cultura da Educação. Lisboa: Edições 70.
Leite, E; Malpique, M. & Santos, M.R. (1989). Trabalho de Projecto – Aprender por projectos centrados em problemas. Porto: Afrontamento.
Pozo, J.I. (2002). Aprendizes e Mestres. Porto Alegre: Artmed Editora.


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